• Livro: Poemaduro
• Autor: Mailton Rangel
• Editora: Scortecci
• Páginas:112
• Classificação: ★★★★ (4/5)
Essa é a primeira vez que faço resenha de um livro de poesias, gênero tal que me admiro muito. Primeiramente, ressalto a importância social que "Poemaduro" nos trás: 30% do valor de venda de seus exemplares são destinados à Associação de Amigos do Autista de Nova Iguaçu.
O que nos espera nestas páginas é um formato eclético de poesia que não se ocupa meramente em perseguir estilos predefinidos ou regras acadêmicas. Ao contrário, considerando-se que não há como de escapar aqui de algum tipo de impacto, "esbarremos" em um poeta livre e original, que conduz sua criação, a um só tempo, com a leve candura de um colibri, mas com o vigor e a autonomia de uma águia dos desertos.
Enquanto colibri, Mailton Rangel extrai de sua mais intimista subjetividade, toda uma complexidade de conteúdo com o mínimo de movimentos ou barulhos, mostrando, às vezes, com as imagens e os silêncios de poucas palavras, muito mais do que olhares displicentes possam captar.
"Eu busco um lirismo forte / Uma espada / Um desvaneio / E uma tocha... / Já não me encanto mais / Com flor que desabrocha / Quero um desabrochador... de rocha!"
Já a águia, revela-se pela apurada acuidade visual, capaz de enxergar seus objetivos até quando distantes e camuflados sob carapaças. Isso se associa à determinação de lançar-lhes suas garras e sacudi-los, até que dali se transpareça uma essencialidade esquecida ou petrificada.
"Por mim / Não existira só uma praça / Com nome de general / Porque praça / É lugar de criança / E general que tem nome / Ainda hoje me lembra... Matança!"
O Autor
Mailton Rangel, poeta, compositor e artista plástico, nasceu no dia 07 de setembro de 1952, em Italva, interior do Estado do Rio de Janeiro, quando a cidade era ainda um precário distrito do município de Campos do Goitacazes.
Oriundo de família humilde, erradicou-se na Baixada Fluminense desde os três anos de idade onde, durante as décadas de 70 e 80, mesmo extraindo seu sustento de subempregos, também se integrava, na medida do possível, a movimentos culturais e de formação de jovens. Assim, ele consolidou seu gosto pelas artes, apurando substancialmente a visão crítica que hoje exterioriza nas canções e poemas que cria.
Ainda que em 1980, publicou seu primeiro livro "Pólen ao Vento" mas por considerá-lo só um arroubo da juventude, cujo teor se estagnava um pouco àquele momento político-social, o autor jamais aceitou reeditá-lo.
Atualmente, por força do cargo de analista judiciário que conquistou em 1997, mediante concurso, Mailton Rangel é um bacharel em Direito, e não em Letras, Música ou Filosofia, como porém, meio que paradoxalmente, tal formação somente lhe acrescentou em temos de senso de corrobora com a sua poética defesa da dignidade e da essencialidade humana, atributos que afinal, também figuram como objeto de tutela da corrente naturalista das Ciências Jurídicas.